Maria Margareta van Akerlaecken

1605 – > 1662

O leitor que confessar nunca ter ouvido falar da pessoa que inicia este capítulo, não precisa se envergonhar. Ela era tão pouco conhecida que não existe nenhum quadro retratando esta pessoa como também não se sabe o ano exato em que ela morreu nem onde foi enterrada. Pesquisas realizadas por ocasião do 4* centenário de nascimento de João Maurício de Nassau, comemorado em 2004, colocaram o nome dela em certa evidência.

Quem era ela?
Maria Margareta nasceu na cidade de Dordrecht em 6 de fevereiro de 1605 como a mais nova de seis filhos de Barthold van Akerlaecken, jurista e genealogista, e de Elisabeth van Ghesel. Não há informações sobre um eventual casamento dela.

O pai de Maria Margareta tinha certa fama como genealogista e, após a morte dele, ela continuou fazendo pesquisas genealógicas. Ela fez assim um trabalho sobre o stadhouder (1) Príncipe Frederico Henrique e recebeu um pagamento de duzentos florins por este trabalho. Em 1655 ela publicou as pesquisas do pai dela, sob o título As antigas, grandes e verdadeiras genealogias. Nestas genealogias são mencionadas, entre outros, os duques de Cleve. Na introdução do livro ela escreve como o livro deve ser lido: “Se o leitor encontrar algum erro não é o falecido pai que deve ser culpado, mas ela, por possuir apenas a inteligência de uma mulher.”

Margareta confessa abertamente que ela escreve poesias para sobreviver, para ganhar o pão de cada dia. Ela abraça a poesia não por motivos de sabedoria, mas a partir da “natureza” dela.
Ela publica em 1654 a sua coleção de poesias Den Cleefsen Pegasus (O Pégaso de Cleve) (2) . No prefácio ela revela o lema da vida dela: “Evite a luta. Sofra com a inveja. Liberdade, alegria.” A coleção de poesias é dedicada aos critiqueiros ou momistas. Pois Momus, o deus da crítica, sarcasmo e zombaria, deveria ser vencido. Sem entrar em detalhes ela diz que ficou em Cleve por muitos anos contra a sua vontade. Por outro lado garantia seu bem estar pois produzia poesias sem limite para os membros da corte e parentes do Grande Eleitor de Brandenburgo. Garantia assim anualmente uma considerável soma em dinheiro. Em certa ocasião recebeu de João Maurício um grande vaso dourado cheio de ‘rijksdaalders’ (moedas que valiam dois e meio de florins).

A coleção ‘O Pégaso de Cleve’ contém um total de 71 poesias, 25 delas exclusivamente sobre João Maurício. A maior parte são poesias louvando o Grande Eleitor de Brandenburgo e seus parentes. Os assuntos mais banais ganham grande destaque nos seus versos: a viagem de uma princesa a Berlim e seu retorno, o fato de o Grande Eleitor numa caçada ter matado dois perdizes com um tiro só, como também dois porcos selvagens com um tiro(!), o valor da dança, e assim por diante. Mas por estar ganhando uma anuidade por seus trabalhos, ela deveria produzir, não importava como.

Grande destaque recebe João Maurício de Nassau e várias poesias são dedicadas a ele, por exemplo sobre a plantação de muitas árvores nos jardins de Cleve e as estátuas presentes nestes jardins. Alguns versos manifestam uma certa insolência por parte da poetisa quando ela sugere que João Maurício deveria casar para gerar uma descendência tão famosa quanto ele. Apesar de falar em casar com uma duquesa ou princesa, é difícil escapar da ideia que ela mesma poderia ser a eleita!

Margareta chegou em 1649 em Cleve e partiu em 1655; depois desta data não se tem mais notícias dela. Não se sabe onde viveu depois, o que ela fez, onde e quando morreu; simplesmente sumiu! Decepcionada com a vida de poetisa que nunca recebeu reconhecimento?

De fato: ela era uma péssima poetisa e até poucos anos atrás o nome dela nem constava em livros de referência à literatura neerlandesa. Quem lê as poesias originais percebe o enorme esforço que ela se dá para fazer rimar as suas poesias, chegando a inverter a ordem das palavras para conseguir a rima.

Segue uma das poesias, traduzida parcialmente, da original intitulada “O Louvor e a Vida do Venerando e Ilustríssimo Príncipe Johan Maurits Príncipe de Nassau, Governador Eleitor de-Brandeburgo Cleve e território de Marck, & C.”

Redigido e escrito em versos rimados pela senhorita MARIA-MARGARETA Van Akerlaecken.

Data: 26 de fevereiro de 1650
13 de março de 1650 (3)

Louvor de boas-vindas para o Venerando e Ilustríssimo Príncipe Johan Maurits de Nassau Príncipe de Nassau, Governador Eleitor de-Brandeburgo Cleve e território de Marck, pela primeira entrada na Real Cidade Residencial de Cleve após a partida do Ilustríssimo Eleitor de Brandeburgo, no dia 13 de março de 1650.

BEM-VINDO Príncipe de Nassau,
Aqui nestas terras de Cleve,
Fazendo a primeira entrada,
Após a partida do Eleitor de Brandeburgo,
Em cujo lugar o senhor agora
Deve carregar todas as preocupações destas terras.
O Senhor nosso Deus lhe deu,
Inteligência acima dos outros,
Para a grande sorte desta terra,
Pela qual em todos os tempos,
Com boa política a libertará,
De muitas desgraças futuras.
Por esta razão estas terras todas,
Podem bem chamá-lo de Pai,
Tal como os Brasileiros selvagens,
Que tens contido tão amigavelmente,
De maneira que os velhos como os jovens,
Se tornaram seus dóceis súditos.
Isto foi bem mostrado em seus prantos,
Pelos selvagens que trouxeste para a Holanda,
Quando eles pensaram que sua graça,
Valesse muito a pena para poder morrer,
Ninguém conseguiu consolá-los,
Pelo que lhes foi dito carinhosamente.
Estes selvagens não estavam contentes,
Mas queriam a sua graça,
Ver e ouvir falar lhes docemente,
Assim se encheram novamente de alegrias,
Pelas quais se pode observar muito bem
As virtudes que lhes transferira.
Sua alteza vai hoje seguir,

Os passos de Marco Aurélio,
Que queria falar com todo mundo,
Apesar de ser imperador de Roma,
Fez chegar até ele todas as pessoas,
E até ouvia suas queixas.
Por vossa virtude e bondade,
Que mostrais a todas as pessoas,
Também compartilharás os desejos delas,
Com a maior justiça possível,
Aplicando esta arte em particular,
Receberás os maiores louvores,
Fazendo com que cada um com grande zelo,
Se dedicará a grandes feitos,
Assim o tempo todo de sua vida,
Se chamará um tempo de ouro.
Por este motivo peço ao Senhor dos Senhores,
Que o Príncipe possa reinar por muito tempo,
Assim todas as pessoas juntas,
Devem entoar louvores,
E que por muito tempo,
Possam divulgar seu grande nome.
Príncipe de Nassau, queira me perdoar,
Que escrevi aqui tão francamente,
Não é como eu quero, mas como eu posso,
Porque para descrever todos os louvores,
Eu não tenho a capacidade,
Eu suplico, queira aceitar o meu trabalho.

Este trabalho foi feito em Cleve no dia 26 de fevereiro de 1650.

(1) Apesar de não constar no dicionário (Aurélio), Wikipédia traduz stadhouder por ‘estatuder’. Era um cargo político das antigas províncias dos Países Baixos que envolvia funções executivas.
(2) Pegasus: É um cavalo alado na mitologia grega e considerado criador da fonte da inspiração.
(3) Imperador romano Marco Aurélio (121-180): seu reinado foi caracterizado pela devoção ao povo.

Este artigo foi escrito por Johan Scheffer e publicado pela ACBH na revista De Regenboog nº 282 dezembro 2021.

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