João Maurício de Nassau-Siegen e Vondel (2)

No ano de 1657, Vondel encontrou uma nova oportunidade para elogiar as virtudes de João Maurício. Neste ano, o Grande Eleitor de Brandenburgo (Frederico Guilherme) enviou João Maurício a Frankfurt, para representá-lo na eleição do novo imperador que seria Leopoldo I. Uma poesia de 300 linhas descreve João Maurício como ‘príncipe de paz’. Vondel estava extremamente preocupado com a discórdia na Europa cristã, pois enfraqueceria a força para combater os Turcos (Islã). Já em 1634, ele escreveu “Como é possível que cristãos combatam entre si enquanto as fronteiras são ameaçadas pelo perigo turco”. Vondel se refere à Guerra dos Trinta Anos, de 1618 a 1648, entre, principalmente, Alemanha e Suécia. Alemanha saiu devastada desta guerra e Vondel considera João Maurício como a pessoa capaz de evitar futuros conflitos entre países cristãos. Vondel descreve assim a situação da Alemanha após a guerra: ”Germânia (Alemanha) pagou caro pela guerra; as lavouras abandonadas e tomadas pelo mato; milhares de pessoas empobrecidas, reconstruindo, como escravos, o que foi destruído.”

Vondel novamente vê em João Maurício a pessoa que pode evitar futuros conflitos em virtude do seu espírito pacificador.

O sonho, ou visão, de Vondel parece não ter limites. Ele relata que, na plantação dos famosos jardins em Cleves, foi encontrada uma medalha com a imagem de Julius Cesar. A medalha começou a brilhar e a falar, aparentemente dirigindo-se a João Maurício, prevendo a eleição do novo imperador, bem como uma vitória sobre os Turcos. João Maurício é um herói e um predestinado lutador contra o Islã, mas acima de tudo, um ‘príncipe de paz’. Enquanto na poesia ‘Louvor à Caça’, Vondel comparou João Maurício ao sol que não brilha para si mesmo, agora João Maurício é comparado ao rio Reno, que “não corre por si mesmo, mas se expande para fertilizar as lavouras com o aluvião do seu próprio rio.”

João Maurício de Nassau-Siegen
Gravura de Cornelis van Dalen II a partir de um quadro de Govaert Flinck
Museu Kurhaus Kleve – Coleção de Ewald Matare

Local da estátua Pallas Athena nos Jardins de Cleves
Foto do autor

Cornelis van Dalen II fez, em 1658 uma bela gravura de João Maurício. Ele fez a gravura a partir de um quadro pintado por Govaert Flinck. A gravura contém uma epigrama de Vondel, na qual, de certa forma, ele “corrige” o autor da gravura. A gravura apresenta João Maurício rodeado de todos os brasões da sua árvore genealógica. Vondel diz: “Não ponha MAURÍCIO na sombra dos brasões dos seus antepassados, mas com as virtudes reunidas num herói.”.

Em 1659, realizou-se o casamento de Johann Georg von Anhalt, general-chefe de Brandenburgo, com Henriette Katharina, terceira filha de Frederico Henrique de Oranje-Nassau († 1647) e Amalia von Solms. A solenidade aconteceu na cidade de Groningen, mas em seguida o casal visitou Amsterdã e, obviamente, coube a Vondel a composição de uma poesia para homenagear o casal. Entre os convidados estava João Maurício que, na poesia, não escapou à pena de Vondel. “Maurício se torna jovem e se faz ouvir no casamento, tão tranquilo como se quisesse recomeçar no Brasil o comércio e espantar os portugueses para as matas e cana de açúcar.”

Durante as festividades, ocorreu o aniversário de Amalia von Solms. João Maurício mantinha um excelente relacionamento com ela e Vondel, em nome dele, fez uma poesia para ela. “Que ela viva tantos anos quanto João Maurício desejar, que ela viva mais cem anos, como uma flor que não murcha.”

Entre João Maurício e o governo de Amsterdã existe uma boa amizade. A intenção de Amsterdã é usar a força política de Brandenburgo para aumentar a sua influência econômica no Mar Báltico. O escultor Artus Quellinus (Arnoldus Quellijn, 1609-1668) recebe, em outubro de 1659, a encomenda de confeccionar uma estátua representando Pallas Athena, deusa da sabedoria. O lugar da estátua será nos Jardins de Cleves, obra de João Maurício. Novamente, Vondel recebe a incumbência de compor uma poesia da qual citamos algumas linhas: “Maurício, que nunca esteve preso ao jugo das mulheres, na sua velhice se encantou quando o velho herói viu a sábia Pallas.”.

Atena, deusa da sabedoria
Fonte: Brasil Escola
[Veja a foto da estátua no Jardim em Cleves]

Fontes: Wikipedia; VONDEL Volledige Dichtwerken en Oorspronkelijk Proza: Albert Verwey; Soweit der Erdkreis Reicht: vários autores.

Este artigo foi escrito por Johan Scheffer e publicado pela ACBH na revista De Regenboog nº 286 janeiro 2023.

Voltar para a página: Histórias Scheffer