Sêo Candido

Por Gilberto de Geus

Dentro da pequena história de Carambeí, temos um personagem que quase passa despercebido. Não sei quantos carambeianos ainda se lembram do Sêo Candido!!!!

Mas afinal quem era esse Candido?

Candido, apesar do nome, era um ex-escravo, negro, e como se diz por aqui – “era azul de tão negro”.
Durante as gostosas conversas de domingo do café das dez, meu pai Arie de Geus e seu irmão mais velho Aart Jan de Geus, se lembravam dos primeiros anos da imigração, e eu sempre ouvia com muita atenção. Dentre as histórias havia uma sobre o Sêo Candido. Falavam da importância dele para a fixação dos imigrantes nesta terra.
Candido foi escravo nas fazendas de gado da região de Castro e depois da abolição se instalou em Carambeí (início dos anos de 1900), abriu uma roça, construiu sua casa e plantava milho, feijão, mandioca, batata-doce e criava algumas galinhas e alguns porcos.

Quando da chegada dos imigrantes em 1911, Candido vendia o que sobrava das suas colheitas para os holandeses. O que lhe ajudou a ganhar algum dinheiro e em contrapartida forneceu alimento para os recém-chegados imigrantes.

Mas a importância de Sêo Candido não se resume em ter fornecido alimentos. Os imigrantes chegaram numa terra desconhecida onde não dominavam o ciclo das culturas. E é aí que entra este personagem na nossa história

Como ex-escravo aprendeu com seus senhores os segredos das culturas e da terra, e passou este conhecimento para os novos habitantes. Ensinou o que plantar, como e quando semear, quando colher e como deveriam preparar a terra. Além disso, ensinou quais frutas e plantas silvestres podiam ser consumidas e a maneira de prepará-los. Foi uma espécie de curandeiro, preparando chás com ervas medicinais.

Sêo Candido era uma espécie de herói entre as crianças, vivia rodeado de “cabecinhas brancas” ávidas em absorver o conhecimento. Meu avô Leendert de Geus repetia para os novos imigrantes a cena onde o Candido, com suas vestes simples e sempre descalço, estava rodeado pelas cabecinhas brancas. E quando saíam para o campo para novos ensinamentos, parecia uma galinha choca seguida pelos seus pintainhos.

Por diversas vezes tentei a inclusão de um casebre de caboclo no nosso Parque Histórico de Carambeí, homenageando o Sêo Candido e a tantos outros caboclos importantes na formação de nossa cidade. Ainda não consegui. Mas continuo achando que é nosso dever reverenciar estes senhores – ex-escravos, analfabetos, sofridos e esquecidos.

Sêo Candido foi como um anjo da guarda para os imigrantes de Carambeí, poucos sabiam como ele havia chegado até ali, e quando terminou seu papel de ensinar/proteger resolveu por o pé na estrada, juntando-se a uma comitiva que levava uma boiada para São Paulo, e nunca mais voltou.

Salve o Sêo Candido, salve a todos os caboclos da nossa terra que viabilizaram a imigração.

As fotos mostram nosso anjo Sêo Candido,