Johan Scheffer, o guardião das memórias

Há 10 anos como secretário da Associação Cultural Holanda-Brasil, sediada em Carambei, ele e sua equipe se dedicam a preservar a história da imigração

Um grande armário de aço, organizado com atenção e muito cuidado, abriga uma grande quantidade de pastas, documentos, fotos, filmes, revistas, livros e relatórios de viagem. E ali que o holandês Johan Scheffer, 74 anos, guarda boa parte da história da imigração holandesa no Brasil. Uma verdadeira preciosidade para quem sabe a importância desse tipo de registro para a preservação e o resgate da história de uma comunidade.

Scheffer é secretário da Associação Cultural Brasil-Holanda, entidade sediada em Carambei, e que tem por finalidade manter a cultura holandesa e suas relações com o Brasil, além de promover o intercâmbio entre as colônias e núcleos existentes em solo brasileiro. A entidade já existe há 12 anos e é presidida pelo também holandês Koob Petter.

Ali naquele armário, como explica Scheffer, tem de tudo. Desde pequenos informes impressos pelo antigo mimeógrafo, até livros de capa dura, editados por Cooperativas e pesquisadores a respeito da imigração, Lá estão também, segundo o secretário, muitas entrevistas colhidas com pioneiros, um material fundamental para a compreensão do passado e que não podia ser perdido com tempo. “Era muito importante guardar essas memórias em depoimentos”, reforça.

Animado, Scheffer conta que todo esse material está sendo digitalizado pela Cooperativa Batavo e assim que estiver pronto será disponibilizado na internet. “Sempre tivemos a intenção de sistematizar essas informações e registros. E agora, por conta do centenário de Carambei e do Ano Holanda-Brasil, decidimos levar o projeto adiante”, explica. “Sabemos hoje que é absolutamente necessário reunir essas informações num só lugar, de fácil acesso. Será a colaboração da Associação Cultural para o Ano Holanda-Brasil: a criação desse Centro de Documentação da Imigração Holandesa”, ressalta.

Entre os documentos do acervo, Scheffer destaca um que deixaria qualquer historiador interessado, “Recebi um diário que relata uma viagem da Holanda para a Argentina e Sul do Brasil. Junto estava o Tratado do governo brasileiro, de 1907, que detalhava as regras para a imigração”, conta.
Além de atuar nessa área de resgate histórico, a Associação Cultural também se preocupa com o dia a dia dos imigrantes e as questões práticas que nem sempre são simples para quem vive distante de sua terra natal. “Não há nenhuma outra entidade que reúna esses holandeses, que estão em tantas regiões do Brasil. Por isso fazemos o possível para realizar um intercâmbio de informações e ajudar no que for possível”, reforça.

DE REGENBOOG – Para isso, a Associação possui uma publicação mensal própria, a revista De Regenboog. Nela são publicadas notícias das colônias e também assuntos gerais de interesse do imigrante, como informes da embaixada e dos consulados. “Há muitos parentes entre as colónias, por isso é importante que a revista traga informações de todos os lugares. Assim, quem mora aqui e tem parentes em Holambra, por exemplo, fica sabendo do que acontece por lá”, explica o secretário, lembrando que, para viabilizar esse intercâmbio, cada colônia tem um representante na revista.
Um exemplo da atuação prática da Associação é a batalha que ela vem travando para facilitar a obtenção de passaporte para os holandeses que vivem no Brasil. A entidade apresentou um requerimento junto ao governo holandês para que o Consulado em Curitiba também possa emitir o documento, que atualmente só é expedido pelo órgão em São Paulo. A associação questiona também a validade do passaporte que hoje é de apenas cinco anos, “É complicado para o imigrante que mora nas colônias do Sul e do Paraná. O processo de emissão do passaporte é demorado, não pode ser feito num dia só, e isso dificulta muito para quem vive longe da capital paulista”, defende Scheffer.

Em 2010, ele conseguiu uma audiência com um representante do governo holandês, em Haia, e entregou pessoalmente um requerimento com mais de 500 assinaturas, solicitando essas mudanças nos procedimentos. O documento recebeu apoio do ouvidor nacional, que leu os argumentos e prometeu ajudar a defender o pedido.

RELAÇÕES HOLANDA-BRASIL –
A associação mantém também muito contato com outros grupos e instituições culturais, os quais, cada um ao seu jeito, atuam para manter as tradições holandesas. Para Scheffer, o Brasil e a Holanda estão unidos pela história de vida dessas pessoas que imigraram e pelas marcas que esse processo deixou nos dois países, especialmente do ponto de vista econômico. “Foi nessa área que a imigração holandesa produziu maior impacto no Brasil, como, aliás, era o propósito. A floricultura em Holambra, a tecnologia de precisão em Não-Me-Toque, o plantio direto e outras técnicas desenvolvidas pelos agricultores e pecuaristas foram muito importantes para o País”, avalia.

Nesse contexto, acredita o secretário, preservar a história é fundamental para que as próximas gerações possam conhecer as raízes dessa relação de sucesso. E pelo que se pode notar, se depender do trabalho dedicado de Scheffer e demais membros da Associação Cultural, serão necessários muitos armários e páginas da internet para guardar cada pedacinho dessa história, que a cada dia ganha um novo capítulo.

Por: Patricia de Paula

Matéria publicada com autorização da editora, com pequenos ajustes no texto, fonte:
Verde, Amarelo e Laranja. História da Imigração Holandesa no Brasil, publicação comemorativa Ano Holanda Brasil (2011), Editora Setembro.

A revista aborda os aspectos legais e sociais de acordos migratórios; os primeiros grupos organizados para o Espírito Santo; as emigrações para Carambeí; a primeira grande imigração organizada em 1948: Holambra; as demais colônias que se seguiram: Castrolanda, Campos de Holambra, Não-Me-Toque, Arapoti, Paracatu, Unai, Rio Verde, Maracaju e uma entrevista com o Cônsul da Holanda.

Para encontrar estas e outras histórias de vida e de instituições, conheça a Ed. Setembro: link

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Scheffer se dedica a preservar a história da imigração holandesa no Brasil.
Fonte: M. van der Vinne, 2021.

A ACBH deu continuidade à “Centraal Maandblad”, revista de integração em língua holandesa com a revista “De Regenboog “.
Fonte: M. van der Vinne, 2021.

Centro de Documentação conserva importante material de pesquisa da ACBH.
Fonte: M. van der Vinne, 2021.