Holambra

Histórico resumido da comunidade de Holambra (Holambra I), São Paulo – Brasil.

No final da década de 1940 muitos holandeses fizeram planos para deixar o seu país de origem. O Brasil despertou o interesse de muitas famílias que procuravam uma terra para produzir e um lugar onde pudessem construir suas vidas e um futuro para seus descendentes.

O continente europeu ainda respirava os horrores da Segunda Guerra Mundial, cujos reflexos econômicos e sociais foram devastadores. Nesse cenário, a notícia de que o Brasil recebia imigração em grupo logo se espalhou pela Holanda. Apesar de a imigração ter se tornado uma prática comum e de certa forma estimulada pelo governo neerlandês no início do século XX, é neste período que ela passa a ser planejada na forma coletiva e não mais apenas de indivíduos isolados.

É na Holanda que começam os primeiros preparativos. Assim, a KNBTB (Katholieke Nederlandse Boeren- en Tuindersbond), ‘Organização de Lavradores e Horticultores Católicos da Holanda’, e o secretário da entidade J. G. Heijmeijer, preparam o território da antiga Fazenda Ribeirão para se tornar o destino para os imigrantes fixarem residência.

Os cinco mil hectares que pertenciam a um grupo norte-americano foram comprados em 1948, com empréstimo do governo americano, já que no período pós-guerra era proibida a saída de capital holandês do país. A Fazenda Ribeirão não passava de um pequeno conjunto de construções modestas, a sede, uma área de pasto limpo, currais para manejo do gado e alguns armazéns.

Os holandeses traziam consigo um sistema pouco conhecido pelos brasileiros, o cooperativismo, reproduzindo entre eles valores como ajuda mútua, responsabilidade, democracia e igualdade. Em junho de 1948 é fundada a Cooperativa Agropecuária do Núcleo Colonial holandês Ribeirão, sob liderança de Von Schwartzenau e dos primeiros imigrantes a caminho de Holambra: Toon Cruysen e Wim Miltenburg. No dia 14 daquele mesmo mês, num ato simbólico, uma pá era fincada à terra e ali nascia a colônia Holambra.

Uma das primeiras atividades da cooperativa foi preparar a fazenda para receber as famílias de imigrantes que chegariam no início de 1949. Calcula-se que 44 holandeses, sendo cerca de 20 crianças, vieram para o Brasil no primeiro navio de imigrantes, seguidos pelo gado leiteiro, que ficou em quarentena no Parque da Água Branca, na capital paulista.

Também se iniciou na Holanda a formação de grupos de apoio que vieram a ser muito importantes para facilitar a adaptação das famílias, oferecendo cuidados com a educação, saúde e apoio religioso. No final de 1947 freiras e padres holandeses chegaram para auxiliar os colonos nesta área e irmãs conhecidas como leigas exerciam, além das atividades religiosas, trabalhos de integração da comunidade e formação de uma escola voltada à educação dos filhos dos sócios da cooperativa e uma escola doméstica.

O projeto de Heijmeijer era que todos os imigrantes trabalhassem no mesmo terreno e os lucros fossem divididos entre todos de maneira igualitária, uma estrutura semelhante à dos kibutzs de Israel. Mas os problemas dos primeiros anos de imigração, como o fracasso da criação de gado leiteiro, que não se adaptou ao clima, e as dificuldades de abertura de mercados levaram a proposta cooperativista a passar por sua primeira crise.

Devido às dificuldades iniciais, algumas famílias voltaram para a Holanda ou se mudaram para outras regiões do Brasil, principalmente no sul, para localidades como Monte Alegre, Castro e Não-Me-Toque.

A cooperativa de Holambra administrava a localidade suprindo deficiências existentes nas primeira décadas e enfrentando as dificuldades que continuaram até meados dos anos 1960. Reformas significativas nas estruturas produtivas e nas formas de divisão dos lotes foram realizadas. Além disso, brasileiros entraram nas atividades, houve diversificação da produção e uma reestruturação financeira da entidade.

Associados da Cooperativa Agropecuária Holambra seguiam produzindo gado, cítricos, adubos, rações, frangos, ovos e, finalmente, flores e plantas, funcionando as diferentes produções como amparo umas das outras. A cooperativa foi capaz de produzir e reger relações sociais mistas, entre holandeses e brasileiros, além de promover reformas e criações estruturais que ainda hoje são as bases da infraestrutura da cidade.

Mais tarde houve mais um momento decisivo na história de Holambra, com a criação de novas cooperativas a partir da matriz, sendo que o município conta hoje com a Cooperativa Pecuária Holambra, a Cooperativa Agropecuária de Insumos Holambra e a Cooperativa Veiling Holambra.

A luta pela emancipação de Holambra iniciou-se nos anos 1980, um processo para levar a colônia a se tornar município, que se concretizou em 1991. Anos mais tarde Holambra recebe o título de estância turística, dando mais um impulso ao setor turístico do município.

A cidade, apesar de pequena, tem sua economia movida pela atividade cooperativista e é conhecida nacionalmente como a Cidade das Flores, destacando-se pela produção de flores variadas durante o ano todo.

Cerca de 650 imigrantes holandeses vieram para Holambra entre 1949 e 1950, dando início à construção de um novo espaço em conjunto com brasileiros que já habitavam a região, uma comunidade com características especiais, marcada pela soma de duas culturas.

Na construção desse processo de integração, eventos esportivos, culturais e sociais típicos dos holandeses foram elementos importantes de confraternização e interação entre os dois povos. Todo o contexto cultural, incluindo a alimentação, a arquitetura, a religiosidade, o idioma e a dança folclórica, tem ajudado para que costumes e tradições fossem passados para as gerações futuras de descendentes holandeses.

Texto adaptado a partir de:
REVISTA SETEMBRO. Edição Comemorativa aos 60 anos da imigração holandesa para Holambra. Holambra: Editora Jornal da Cidade de Holambra Ltda, n.10 Ano X, 2008.

Chegada a Holambra de um grupo de imigrantes holandeses em 1950.
Fonte: Acervo do Museu Histórico e Cultural de Holambra.

Na charrete, as famílias Domhof e Hulshof, meio de transporte muito utilizado na Fazenda Ribeirão.
Fonte: Acervo do Museu Histórico e Cultural de Holambra.

Produção de flores e plantas de Holambra começa a ganhar o Brasil e o mundo
Fonte: Acervo do Museu Histórico e Cultural de Holambra.

Tradicional ‘Sinterklaasfeest’ organizada na comunidade holandesa de Holambra, fim da década de 1980.
Fonte: Acervo do Museu Histórico e Cultural de Holambra.

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